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Foto e biografia: https://www.editorapatua.com.br

 

WHISNER FRAGA

( Minas Gerais – Brasil )

 

Whisner Fraga é mineiro de Ituiutaba, autor dos livros “As espirais de outubro”, romance, Nankin, 2007, “Abismo poente”, romance, Ficções, 2009, “Lúcifer e outros subprodutos do medo”, contos, Penalux, 2017, “O privilégio dos mortos”, romance, Patuá, 2019, entre outros. Participou das antologias “Os cem menores contos brasileiros do século”, organizada por Marcelino Freire e “Geração zero zero”, organizada por Nelson de Oliveira.

 Foi traduzido para o inglês, alemão e árabe. “O que devíamos ter feito” é sua décima-primeira obra publicada.

ANTOLOGIA PATUÁ 10 ANOS +  Patuscada/ Vários autores.  Editor Eduardo Lacerda.  Capa de  Leonardo Mathias. São       Paulo: Editora Patuá, 2021.;   288 p.   13,5 x 21 cm.    
ISBN 978-65-5864-191-9                       Ex. bibl. Salomão Sousa

 

CONFORTO
 

a paineira e um redemoinhos
a manhã desliza pelo vento, esperando uma contemplação,
as pessoas tombam como gravetos, mas lá fora,
os disparos, as fomes, as violências não alcançam o quarto,
ao menos hoje, quando a imponência estremece,
mesmo com as janelas falsificando fronteiras, é tudo macio,
a menina e as músicas incomuns,
as ninharias inesperadas:
tudo é do tamanho de uma ansiedade,
menos o tempo e suas teias derramadas por vidas,
a menina ainda não percebeu a brutalidade das horas,
a menina e seus desenhos interpretando vastidões,
o eco de um ronronar,
a ressonância de corpos demolidos, mas lá fora,
os dias cruzam o vidro e esmagam cuidadosamente
gerações,
e os olhos se acovardam perante a verdade,
o que fazer, menina, se todos caem?,
onde arrumaremos mãos para erguer essa carnes
desprezadas?,
é justo que a dor fique lá fora?.

 

 

SACERDÓCIO

 

o primeiro sol arranha a túnica marrom,
antes desta faísca inaugural, a aragem,
e, antes ainda, o sono,
a túnica ondeada e eclesiástica
uma tinta nova, violeta, nutre o turíbulo,
ao lado a pena e as páginas,
o primeiro sol me apanha cerzindo infinitos,
conluios, traições, emboscadas,
os óculos devotados ao nariz,
a esperança requeimada,
a menina empunha o café, um biscoita na outra mão,
sem açúcar?,
o primeiro sol veste a cadeira, aduba o sonho,
a história entorna letras pelo papel,
tudo é virginal e nem se sabe se vingará,
mas é vivo,
a menina reconhece um prenúncio,
o primeiro sol germina o ofício:
estamos prontos

 

 

proteção


é preciso organização, disciplina, foco, receitam,
a menina refuga, um indulto de alegrias,
quer a amiga, mesmo de máscara, mesmo com álcool gel,
o virtual há de servir, há de remendar,
tudo arreganha os dentes, tudo ferroa, menina,
é verdade a vacina?, o atraso?,
o roubo, a falta de ar, os seiscentos mil?,
é verdade?,
a cidade estende as garras, o semáfora rateia,
carros acuados por galhos vingativos: há sempre
motosserras,
a menina inconformada com bytes, com noticiários,
com as gatas de sonos ariscos,
com a necessidade de aquietar esse facho insuficiente,
a noite de pernilongos encarniçados: quanta liberdade,
deus!
e nós, trancafiados em nossas separações,
tudo grita, tudo espeta doído, tudo bica,
tudo chia, tudo mastiga, menina,
tudo amordaça,
precisamos nos proteger, menina.

 


os nomes da dor

 

guioza, azuna, gacha, mangá,
as palavras amesquinham significados,
e a menino receia o que quer:
vou escrever um mangá, vou desenhar,
as personagens:
(nai, aiko, sayuki, kou, tsunade, yumi)
feições, trejeitos, culturas, conflitos:
por quê?,
porque sim, eu gosto,
a menina volta ao papel e já não tem ideias,
insiste:
você não entende nada!:
a menina desaba,
grita a vaidade dos incompreendidos,
a vanglória passadiça, provocante,
é assim porque sim, uai,
a menino intui que nem tudo é compreensão.

 

 

 

*

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Página publicada em novembro de 2021

 


 

 

 
 
 
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